Já passou...





"[...] No entanto, o que terminei sendo, e tão cedo? Terminei sendo uma pessoa que procura o que profundamente se sente e usa a palavra que o exprima. É pouco, é muito pouco." - (Clarice Lispector.)




Já passou, mas hoje por 20 e poucos minutos apenas, tive uma clareza imensa sobre o que foi a minha vida até o momento...me escorreu uma lágrima e outra, então com o se estivesse lavando o rosto para despertar pela manhã, despertei para o que vivenciara.
Breve e estranha lucidez, passava-me como um filme que tinha fim mas não havia começado ainda. Poucas as vezes que me dei conta do que tomei em meus pensamentos. Nunca havia tido tamanha precisão e certeza do tamanho deste vazio, do quão longe fui buscar meus sonhos e do quão distante permanecem de mim, é como se tivesse andando em círculos, é como saber exatamente os pontos nos quais falhara. Quase tomei nota de tudo para que não esquecesse, por mais assustadora que seja, é a verdadeira essência do que penso ser minha existência até o momento.
O que sou, o que se passou, o que será está há muito já estreitado à minha consciência que eu, impacientemente venho tentando sabotar, e veja que surpresa, em um momento único de descuido, regado a vinho e à sobriedade sentimental, ela me sabota e despe-se sem culpa nenhuma.
Os olhares vertem-se no horizonte atípico e já não estou só.


...


Atípico a esse sentimento de quase lá, 
conivente ao pré estabelecido fracasso,
estreito, como meu peito cheio de "se"...

Partilhando poesia alheia: E agora José?




"A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?
e agora, você ?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José ?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José ?

E agora, José ?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora ?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José !

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde?"




Carlos Drummond de Andrade.

Mais uma de amor...







"É preciso trégua,
é preciso sentir-se só
é preciso não ser preciso
é apropriado não ter ilusões
é correto não seguir reto
é necessário estreitar os laços,
é válido encurtar as distâncias,
é melhor que se cruzem os caminhos
é sadio que se tenha abraços
é importante que haja carinho
é imprescindível dizer: 
- eu te amo."










Maria Clara Carrilho, 13 de abril de 2011.

Vai ver que é isso...



Vai ver que é isso mesmo, minha vida também nunca foi lá de grandes alegrias...aliás me lembro de poucas até.
Se tudo passa, eu sei que sim...passa dai volta com outra figura mas no mesmo papel. Vai e volta, acaba e começa, daí recomeça...enfim é isso, não há mais oq se fazer então, se nessa altura de meus quase trinta anos ainda errante vivo assim.

São os mesmos e velhos estigmas afundando-me na mesma e velha dor, já não sei quando e a quanto caminho, se avanço ou regrido, só sei que choro muito mais que rio, e esta certeza fez-se há tempos já, não é de agora que as coisas vão neste rumo, antes regada a um pouco de ilusões e bebidas mais baratas talvez parecessem mais distantes as tristezas e o fatídico destino nada fabuloso da minha jornada.

Com a frieza que nunca tive, e com as razões que nunca me moveram, cá estou mais uma vez, por meus próprios erros, mas por minhas próprias pernas.

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